segunda-feira, 28 de abril de 2008

PSB quer manter Aécio na aliança de Belo Horizonte (Do Blog do Josias)

A Executiva nacional do PSB não tem a menor intenção de acompanhar o veto imposto pelo PT à aliança com o PSDB de Aécio Neves em Belo Horizonte. A maioria do colegiado de 18 pessoas que dirige o PSB considera o apoio do governador tucano crucial para o êxito de Márcio Lacerda (foto), o candidato do partido à prefeitura da capital mineira.



“Só temos condições de ganhar a eleição em Belo Horizonte se juntarmos todo mundo, inclusive o Aécio”, disse ao blog o senador Renato Casagrande (ES). Ele é líder do PSB no Senado e membro da Executiva da legenda, que se reúne nesta terça-feira (29), especialmente para discutir o caso mineiro.



De acordo com o que apurou o repórter, a tendência da direção nacional do PSB é a de adotar, nesse primeiro momento, uma posição política. Tentará conciliar os interesses do PT com os de Aécio. Mais adiante, porém, prevalecendo o impasse, o partido tende a ficar com o governador tucano, não com o petismo.



Casagrande esquiva-se de falar sobre o futuro. “Temos tempo”, diz ele. Mas não esconde o dilema a que foi submetido o seu partido: “Márcio Lacerda, o nosso candidato, é fruto da unidade que foi produzida em Belo Horizonte. Ele é secretário [de Desenvolvimento Econômico] do governo Aécio. Não podemos ignorar isso.”



O líder do PSB acrescenta: “A decisão do PT tenta atingir o Aécio nos planos dele para 2010, mas acaba atingindo também o PSB [que tem em Ciro Gomes a sua alternativa presidencial]. O PT tem autonomia para fazer o que achar melhor. Mas o PSB precisa cuidar dos seus interesses. E a prefeitura de Belo Horizonte é um ponto importante para o nosso partido.”



No encontro da Executiva, Casagrande vai defender a busca de uma acomodação do PT. Sem dispensar, contudo a contribuição de Aécio. “A aliança com o PT é importante, mas precisamos preservar também a participação do Aécio”, diz ele.



Vai-se chegar a um impasse. A direção nacional do PT transformou o veto a Aécio numa questão de honra. Acha que, prestigiando a parceria com o tucanato mineiro, a eventual vitória de Márcio Lacerda injetará uma azeitona na empada de Aécio, um dos candidatos do PSDB à sucessão de Lula.



Para complicar o que já não era simples, o diretório do PT em Belo Horizonte aprovou, neste domingo (27), a indicação do deputado estadual Roberto Carvalho (PT-MG) para compor, na condição de vice, a chapa de Márcio Lacerda (PSB), o candidato de Aécio. Presente à reunião, Fernando Pimentel, o prefeito petista de Belo Horizonte e fiador da aliança PT-PSDB em torno do “socialista” Lacerda, insistiu na defesa da parceria eleitoral com Aécio.



Nos subterrâneos, o PSB receia que, excluído da aliança, Aécio dê de ombros para Márcio Lacerda e opte por lançar outro candidato a prefeito: o deputado estadual tucano João Leite. Visto como bom gestor, Lacerda não é o que se poderia definir como um campeão de votos. É, por assim dizer, um “poste” de Aécio. Dissociado do governador, tenderia a perder luminosidade. Ou seja, se o PT nacional esticar a corda, o PSB penderá para Aécio.



Curiosamente, Lula não vê na parceria mineira os riscos que a Executiva nacional do PT enxerga. Na semana passada, telefonou para Aécio. Disse que considerara um “erro” o veto do PT. Depois, entrevistado por repórteres de jornais que integram o condomínio dos Diário Associados, o presidente respondeu assim a uma pergunta sobre a parceria mineira:



“Cada partido, na sua cidade e no seu Estado, tem que determinar a política que ele entende que seja mais conveniente. O que estou entendendo? Que é conveniente para o Aécio fazer a aliança com o Fernando Pimentel [prefeito petista de BH] e é conveniente para o Pimentel fazer a aliança com o Aécio. Como o Aécio tem o controle do PSDB e o Pimentel mostrou ter o controle do PT, os dois fizeram aliança. Eu acho normal para disputar a prefeitura. A gente não pode também ficar querendo que Roraima e Pernambuco se envolvam no acordo que Minas Gerais fez.”



A aliança não tem significado nacional?, perguntou-se a Lula. E ele: “Eu não vejo assim. Obviamente que quem fez pode pensar que tem.” Aécio, de fato, imagina que tem. A Executiva nacional do PT também. Idem para a direção do PSB, com uma diferença: Márcio Lacerda, além de secretário de Aécio, é unha e cutícula com Ciro Gomes, o presidenciável do PSB.



Sob Lula, Lacerda foi secretário-executivo de Ciro na pasta da Integração Nacional. Antes, coordenara a campanha presidencial de Ciro, em 2002. Assim, entre ficar com Aécio e apoiar o veto petista, o PSB não hesitará em cravar a primeira alternativa.

Escrito por Josias de Souza às 03h08

Folha Online