As repórteres Cristiane Samarco, em "O Estado de S. Paulo", e Andreza Matais, na "Folha", publicaram matérias no mesmo dia, 18 de fevereiro, revelando que José Serra aceitou a proposta de Aécio Neves, no sentido de que o PSDB realize prévias, estilo americano, para escolher quem será o candidato do partido à sucessão presidencial em 2010. O vitorioso enfrentará Dilma Roussef, candidata do presidente Lula e portanto do PT.
A ideia é inovadora na política brasileira, já que não será realizada apenas a convenção nacional, mas uma eleição interna, de fato, a ser inclusive regulamentada pelo TSE.
Perfeito, a decisão é positiva e de inegável caráter democrático. O mesmo não deverá ocorrer no Partido dos Trabalhadores, pois um confronto nas estruturas do partido governista poderia alimentar o surgimento de uma cisão que, mesmo pequena, nada acrescentaria em favor da ministra-chefe da Casa Civil.
Voltando ao PSDB: a aceitação plena do governador de São Paulo ao teorema - teor e tema - colocado pelo governador de Minas, à primeira vista acentua que ele se sente suficientemente forte para vencer. Não vacilou. Retirou assim um espaço político no qual Aécio poderia avançar. Mas Aécio decolou, inclusive com o apoio de Itamar Franco, manifestado numa entrevista há duas semanas no jornal econômico "Valor".
As declarações de Itamar foram importantes, sobretudo porque assinalou a necessidade de alianças no rumo do Planalto. Aécio fará mais alianças do que Serra? Eis aí uma questão interessante.
Itamar Franco, que foi fator decisivo para a eleição de Fernando Henrique em 94 e de Lula em 2002, no fundo procurou sensibilizar o quadro político tentando mostrar que Aécio é melhor aglutinador e articulador do que José Serra.
Mas a segurança do governador paulista dá margem a supor que ele começou a pensar numa chapa com Aécio como vice. Esta hipótese existe, mas sua consolidação depende de emenda constitucional acabando com o instituto da reeleição. Se a reeleição permanecer, nada feito. Na melhor das hipóteses, para Aécio, serão quatro ou cinco anos de espera. Mantendo-se a reeleição, oito anos no sereno.
O mesmo raciocínio aplica-se a Lula. Sem reeleição, dependendo da duração do novo mandato, ele aguarda quatro ou cinco anos. Havendo reeleição, oito anos. É muito tempo. O mais provável, penso eu, é que a reeleição seja derrubada. Dilma Roussef também terá que escolher o vice. No PMDB, claro, para manter a atual aliança.
Uma coligação, porém, que não será mais a mesma depois da dissidência claramente aberta pelo senador Jarbas Vasconcelos.
Dentro deste quadro, desaparece a perspectiva Ciro Gomes, seja como candidato a presidente, seja como vice. Serra prefere Aécio a Ciro, claro, Dilma alguém do PMDB. Heloisa Helena disputará a presidência da República. Dissidente do PT brilhando nas pesquisas com a legenda do PSOL, vai contribuir para remeter o desfecho a um segundo turno. Não há muitas alternativas em torno do sucessor do presidente Lula. Aécio tem pressa nas prévias.
Isso porque seu prazo para trocar de legenda acaba a 30 de setembro deste ano. Mas ele não vai romper com os tucanos. Para qual legenda iria? Eis aí uma pergunta fundamental. A sorte parece estar lançada. Pelo menos na aparência. No panorama de hoje, vale frisar.
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